sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

~O~

- Vô, - a pequena ergue os bracinhos para o ainda jovem homem. - Por que a gente morre?

Agacha-se e acolhe a miúda no colo, pondo-a acima das milhares de cabeças presentes no funeral.

- Porque nada é para sempre, minha princesa.

Os olhos verdes-musgos dela alcançam a visão do caixão lacrado.

- Então por que a gente vive?

Ajeita-a no colo e observa como os olhos grandes correm do caixão para o ancião que fazia os votos de vida após a morte.

- Para morrer em paz. – Responde após muito pensar. A voz calma, pausada e com um leve sorriso nos lábios.

A menininha chama atenção das vistas alheias. Na visão do jovem avô, curiosos que nada devem entender ou criticar.

- Todos devem morrer, vô? – Os olhos ainda a obter qualquer detalhe da sala, dos rostos e do caixão.

- Você quer saber em relação a merecer?

Ela não responde. Faz um movimento impaciente entre os braços dele, declarando que deseja descer. O homem abaixa-se até notar que as plantas dos pés estão inteiras no chão.

- Querida? – Chama atenção dela ao perceber as verdadeiras intenções da miúda. Ela dá de ombros, sem se importar se agrada ou não ao avô.

- E isso faz diferença?! – Fala, por fim, antes de se meter entre as pessoas e aproximar-se do caixão.

Vê-a passar entre as pernas e estica o pescoço. Os pés nas pontas, as mãozinhas apoiadas na beira do suporte do caixão. Não há o que temer; não há como ver o estado final. A caixa de madeira decorada com escritos antigos de língua morta está lacrada, inteiramente.

- Não, minha princesa, não faz.

~O~

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

1º Capítulo.

Hermione arrancou os óculos delicados da frente dos olhos e permitiu descansar a vista um pouco. Só podia ser alucinação! Era a terceira vez que tinha a nítida impressão de ver a figura de um homem muito parecida com a de Remus Lupin passar diante da porta de sua sala.

Deve ser o Teddy que resolveu adquirir as feições do pai, pensou ao lembrar que o rapaz estava fazendo residência no hospital naquele semestre. Só poderia ser isso, afinal Lupin já não estava mais entre eles.

Olhou para o porta-retrato em cima da mesa e apoiou a têmpora na mão. Deveria trocar aquela foto com urgência, Hugo e Rose já não eram as criancinhas que necessitavam de olhos atentos o dia inteiro. Na verdade, agora tudo o que os dois menos queriam eram olhares paternos em cima deles.

Afastou a cadeira já a desabotoar o jaleco branco para deixá-lo pendurado no mancebo quando, tão rapidamente quanto um piscar de olhos, sentiu o corpo estremecer em calafrios. O coração pulsava forte na garganta, nos pulsos, na cabeça; mas tudo se acalmou.

Era impossível aquilo ser real, afinal, Voldemort estava morto e não poderia ter visto o reflexo dele no imenso espelho da sala. Simplesmente impossível. Seria melhor já ir embora.

- Doutora Weasley!!!

Seu nome ecoou-se pelo saguão de entrada do hospital. A castanha virou-se e viu um jovem de cabelos azuis caminhar em sua direção.

- Teddy. Ué?! Seu cabelo não estava castanho?

- Castanho?! Não. Faz uns belos anos que ele está desta cor, mas, enfim, o professor Loghbotton mandou o resultado daquelas ervas que você pediu para ele fazer análise.

A curandeira ficou absorta, com os olhos fixos no nada.

- Tem certeza que seus cabelos não estavam castanhos hoje? Sei lá, de repente você mudou e não percebeu.

Teddy fez uma careta incrédula qualquer e achou melhor repetir o que havia dito.

- Doutora, a senhora ouviu a parte que o professor Loghbotton já enviou os resultados da análise--

- Estranho. Eu juro que vi você passar pela minha sala hoje umas três vezes.

- Há! – O jovem balançou a cabeça, sucessivas vezes de forma negativa. – Eu nem se quer fui aos andares superiores hoje. A emergência está uma loucura. E, além do mais, qualquer tipo de transformação causa um certo desconforto interno; eu teria percebido se meus cabelos tivessem mudado de cor.

- Hm. Então está bem. Vai para a casa do Harry hoje? A gente vai lá, se quiser uma carona, o Ron já deve estar chegando.

- Vou, só que mais tarde. Victorie e eu... – Hermione riu com o rosto rubro de Teddy.

- Okay, eu aviso o se padrinho sobre a comemoração.

- O quê?!! Não, calma, Hermione, a gente só vai sair para jantar junto! Não é nada disso...

- Foi o que eu disse. Bem, o Rony já chegou – Os dois olharam para fora e viram um carro bater em um hidrante – definitivamente.

Teddy conteve o riso da pior maneira possível. Rony era realmente o pior motorista que o mundo bruxo poderia ter feito – e que um trouxe poderia ter habilitado. Olhou para o imenso relógio de pêndulo no meio da sala de espera e suspirou. Faltavam ainda alguns minutos para o fim do expediente.

Começou a andar para a emergência quando sentiu uma bigorna cair no estômago. Cabelos cor-de-rosa, curtos, entre a multidão. Atrapalhada, pedindo desculpas ao esbarrar nas pessoas de pé e apenas some.

Estava ficando louco; só poderia ser.

Trailer

E se, de repente, uma sucessão de visões impossíveis acontecesse com todo mundo?
- Algum problema, querido?
- Problema não. É só que hoje, no ministério, achei ter visto...
Pausa. Por que contaria?! Aquilo era simplesmente impossível.
- Eu achei de ter visto o Fred.
Os olhares pousaram sobre a figura ruiva mais velha presente - e, então, o de Harry e Ginny.
- Tem certeza que não se olhou no espelho?! - Tentou Ron.
Ninguém ousou rir. George não riu. Angelina não riu.

E se alguém brincou com a real realidade?
- Você viu aquilo, Ginny?! - Olhou desesperado pelos lados. - FALA, GINEVRA!!! VOCÊ VIU A MINHA MÃE ALI?!
Sentia as palpitações desesperadas dela nos pulsos cingidos pelos seus dedos. Lançava a esposa um olhar feroz, desentendido, insano.
- Não, Harry. - Uma lágrima brotou no canto dos olhos.

E se o que viveram não foi de verdade?
- Onde estou?
- No meu mundo. O real mundo.
- Isso é loucura!!! - Andou de um lado para o outro, nervoso. Passava as mãos pelos cabelos, rosto, pescoço. Estava aflito. Era tudo impossível!!!
- Loucura, caro Potter, é o que eu tive de aguentar para ter o que queria. E agora eu sei que você quer arrancar isso de mim. Só que há um porém.

E se existisse alguém que só queria manipular a vida?
- E por que quer mudar tudo agora?
- Porque ninguém merecia morrer.
- E por acaso cabe a você decidir isso?
- Nessa realidade sim.

E se houvesse um meio de ter todos os queridos de volta?
- VOCÊ É UMA DEPRAVADA! COMO OUSOU BRINCAR DESTE JEITO COM VIDAS HUMANAS?????!
- Quem decidiu que eu deveria ficar orfã quando tudo o que mais queria era crescer ao lado de minha mãe?
- E simplesmente decidiu que queria vingar-se assim?
- Ah! Agora acredita no que falo.
- ERA PARA EU TER TIDO UMA VIDA FELIZ COM OS MEUS PAIS!!!!!!!
- Eis a prova mais que concreta que você prefere pôr as suas crenças em mim ao invés do que realmente aconteceu.
- Você disse que aquilo foi irreal.
- É. Eu disse.

E se tivesse a oportunidade de sair desse sonho?
- Eu o quê?!
- Você dar-me-á a sua razão, consciência, bom senso. Dar-me-á a sua vida astral e a sua aurea. Dar-me-á a vida de seus filhos, de seu afilhado, de seus sobrinhos. A felicidade que conseguiu, a felicidade de seus amigos, de seus parentes, de sua sociedade. A paz que tanto demorou para ter-se, a harmonia que o mundo obteve. Seu nome, sua glória, alegria, amor... Tudo o que a sociedade inteira conseguiu depois do grande feito. É simples, na verdade.
- Simples?
- É a lei da troca equivalente. Você - frize bem isso na sua cabeça, aliás. É você quem quer ter conhecimento do fatos verdadeiros. Deve-se trocar algo de valor equivalente - e é esse o valor da sua curiosidade.

Você teria coragem?
- Você é louca!
- Eu?! Até pode ser. Porque eu troquei tudo isso para poder manipular. Mas sou eu quem pergunta se você terá coragem de trocar tudo o que eu conquistei por algo que não há como manusear. Algo que simplesmente acontece. Porque a sua vida de agora, Potter, só existe porque eu quis assim. E aí, aceita?