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- Vô, - a pequena ergue os bracinhos para o ainda jovem homem. - Por que a gente morre?
Agacha-se e acolhe a miúda no colo, pondo-a acima das milhares de cabeças presentes no funeral.
- Porque nada é para sempre, minha princesa.
Os olhos verdes-musgos dela alcançam a visão do caixão lacrado.
- Então por que a gente vive?
Ajeita-a no colo e observa como os olhos grandes correm do caixão para o ancião que fazia os votos de vida após a morte.
- Para morrer em paz. – Responde após muito pensar. A voz calma, pausada e com um leve sorriso nos lábios.
A menininha chama atenção das vistas alheias. Na visão do jovem avô, curiosos que nada devem entender ou criticar.
- Todos devem morrer, vô? – Os olhos ainda a obter qualquer detalhe da sala, dos rostos e do caixão.
- Você quer saber em relação a merecer?
Ela não responde. Faz um movimento impaciente entre os braços dele, declarando que deseja descer. O homem abaixa-se até notar que as plantas dos pés estão inteiras no chão.
- Querida? – Chama atenção dela ao perceber as verdadeiras intenções da miúda. Ela dá de ombros, sem se importar se agrada ou não ao avô.
- E isso faz diferença?! – Fala, por fim, antes de se meter entre as pessoas e aproximar-se do caixão.
Vê-a passar entre as pernas e estica o pescoço. Os pés nas pontas, as mãozinhas apoiadas na beira do suporte do caixão. Não há o que temer; não há como ver o estado final. A caixa de madeira decorada com escritos antigos de língua morta está lacrada, inteiramente.
- Não, minha princesa, não faz.
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